Como saber se o preço cobrado pelo vinho é justo? Como saber se aquele vinho que estou escolhendo é bom? Será que é falsificado? Identificar e responder a essas questões freqüentes não é tarefa das mais difíceis, mas para isso é preciso saber algumas regras e então seguir sem medo.
Vamos lá:
1 – Primeiro verifique a denominação de origem do Vinho.
No início do século os produtores de vinho na Europa ainda de cabeça cheia com a crise do aparecimento da Filoxera que lhes destruiu as plantações, fazendo com que houvesse escassez de matéria para a produção do suco de uva.
Os invernos rigorosos pioraram ainda mais a situação, e o início da Primeira Guerra Mundial quase paralisaram a indústria de vinho.
A crise americana de 1929 comprometeu a situação dos exportadores de vinhos europeus. Neste contexto histórico, com a necessidade diária de sobrevivência,os produtores se depararam com uma questão crucial: Aumentar a produção e baixar a qualidade, ou manter a tradição de produzir bons vinhos?
Bem, uma parcela de produtores fez a opção por se utilizar de métodos bem duvidosos para produzir vinhos, que garantissem de algum modo a sustento familiar, colocando no mercado “zurrapas” que muitos de nós com certeza já tivemos o desprazer de provar.
Já outros produtores mais corretos e ortodoxos, não cederam à pressão econômica e mantiveram-se fiéis à qualidade do produto.
Tornou-se quase impossível diferenciar os bons vinhos das zurrapas produzidas.
Na França, o vinho, orgulho nacional, encontrava-se em descrédito.
Visando evitar práticas abusivas por parte de produtores que desejavam apenas o lucro e elevar a qualidade do vinho francês, agora em queda, o governo daquele país, em 1935, resolve criar o INAO (Institut National des Appéllations d’Origine) que tinha como missão criar um sistema de classificação que pudesse auxiliar o consumidor a escolher o melhor vinho para seu consumo, evitando assim os vinhos de baixa qualidade.
Desta forma surgiu o sistema AOC (Appéllation d’Origine Contrôlée) que classifica vinhos que obedecem regras rígidas quanto a sua área de produção, variedade e proporções das uvas, rendimento por hectare, teor alcoólico, práticas de produção, entre outras, sendo frequentemente testados laboratorialmente e degustado por experientes fiscais para que possam manter sua classificação.
Este conceito serviu de modelo para vários sistemas em todo mundo. Entendê-lo, mesmo que superficialmente, abre um leque imenso que nos facilita a economizar dinheiro e evita que sejamos pegos por alguma arapuca do mercado.
No sistema AOC existem quatro categorias:
AOC (Appéllation d’Origine Contrôlée), onde encontramos os produtos de melhor qualidade.
Quanto mais específica for a citação de onde foi produzido melhor ele é. Os melhores dos melhores chegam a ter o nome da videira citado em seu rótulo.
Portanto, se um vinho tem em seu rótulo a frase Appéllation Bourgogne Contrôlée (referência à região) pertence a uma categoria inferior a um vinho cujo rótulo estampa “Appéllation Côte de Beaune Contrôlée“ (referência ao distrito) e este será de categoria inferior a um “Appéllation Côte de Beaune –Villages Contrôlée “ (referência ao sub distrito).
VDQS (Vins Délimités de Qualité Supériéure), que são vinhos que têm qualidade inferior ao AOC e se enquadram em regras menos rígidas de produção.
Vins de pays , vinhos de qualidade inferior ao VDQS , mas que dependendo da região produtora são excelente opção de compra.
Vin de table, vinhos de mesa comuns sem indicação geográfica, que por lei apenas trazem no rótulo o nome do país produtor, não devendo indicar nem safra nem o nome da uva.
O sistema italiano classifica seus vinhos, em ordem decrescente de qualidade, em DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita), DOC (Denominazione di Origine Controllata), IGT (Indicazione Geográfica Típica).
O vinho de mesa sem indicação geográfica é chamado de Vino da távola. Na Alemanha, QmP (Qualitätswein mit Prädikat ), ou vinho de qualidade com predicados, QbA (Qualitätswein bestimmter Anbaugebiete), vinho de qualidade de região específica, Landwein, vinho da terra. O vinho de mesa sem indicação geográfica é chamado de Deutscher tafelwein.
Na Espanha, DO = Denominação de Origem. Região de qualidade oficialmente controlada.
DOC = Denominação de Origem Qualificada.
Reservado para os vinhos da mais alta qualidade desde 1988.
Rioja foi a primeira região a ser promovida a esse status.
Vino joven = elaborado para consumo imediato. Similar ao nouveau francês.
Crianza = tintos envelhecidos em madeira por, no mínimo, 12 meses.
Os brancos e rosados envelhecem apenas 6 meses.
Reserva = tintos maturados por 3 anos na bodega e brancos maturados por 2 anos. Os tintos ficam no mínimo 1 ano no carvalho e os brancos e rosados, 6 meses.
Gran reserva = aplicado somente para vinhos dos melhores anos. Os tintos permanecem 2 anos em barricas e 3 na garrafa, ou vice-versa.
Os brancos são raros.
Em Portugal DOC (Denominação de Origem Controlada), IPR (Indicação de Proveniência Regulamentada), Vinho de mesa regional para os que possuem indicação geográfica Vinho de mesa para os que não possuem.
Entretanto é importante salientar a diferença na classificação dos vinhos de Bordeaux em relação a outras regiões da França. Em 1855 quando da Exposição Internacional de Paris, a Câmara de comércio de Bordeaux, a mais proeminente região produtora da época, elaborou uma lista dos considerados melhores vinhos da região para que fossem apresentados no evento.
Foram relacionados 61 vinhos,entre os mais de 20.000 produzidos à época, em cinco categorias chamadas “Crus”, sendo apenas cinco Châteaux classificados como Premier Cru.
Esta lista, conhecida como Classificação de 1855, é importante até hoje.
Os vinhos que dela fizeram parte, ainda hoje estampam em seus rótulos sua classificação, às vezes citados como Grands Crus Classés.
Em Borgonha,como em outras regiões, a especificação “Cru “ não tem o mesmo significado, está relacionada as áreas delimitadas dos vinhedos de qualidade superior que podem receber esta denominação. Existem em Borgonha 561 vinhedos que podem utilizar o termo Premier Cru e 32 vinhedos Grand Cru.
A Denominação de Origem é como um certificado de garantia do vinho, isso não significa que o vinho será do seu agrado, pois isso é algo muito pessoal, questão de gosto mesmo.
Cada pessoa tem gostos diferentes e diferentes níveis de informação sobre vinhos.
Quanto mais informado é um indivíduo maior sua capacidade de descortinar todos os sabores e nuances que um bom vinho pode apresentar e, portanto, maior é sua capacidade de definir o que lhe agrada.
No vinho existem boas e más escolhas, assim como na vida, para que não façamos as escolhas erradas o principal é não ter preconceitos, e nunca ter certeza, pois muitas vezes as certezas que julgamos ter são falsas. Estar disposto a aventurar-se e procurar conhecer um pouco mais do que lhe agrada.
E ter em mente que; o que não agrada você, pode agradar outra pessoa.
Comments